Oferta de imóveis para aluguel despenca 27,5% na Zona Sul do Rio após avanço do Airbnb

Zona Sul do Rio enfrenta escassez drástica de imóveis para aluguel tradicional
Quem procura um apartamento para morar na Zona Sul do Rio de Janeiro está sentindo na pele um dos cenários mais restritos dos últimos anos. A oferta de imóveis para aluguel tradicional caiu 27,5%, um tombo que virou rotina para quem vê as placas de “aluga-se” sumindo das ruas e sites de imobiliárias.
Essa queda livre nos anúncios de locação tem endereço certo: o crescimento fulminante de plataformas como o Airbnb. Moradores relatam que prédios inteiros mudaram de perfil, priorizando turistas em vez de moradores locais. Assim, muitos apartamentos mudaram de dono ou destinação, sem sequer passar pelos cadastros tradicionais de aluguel residencial.
A situação fica ainda mais grave quando olhamos para o número: a taxa de vacância, ou seja, de imóveis desocupados e disponíveis para locação, despencou para 3,3%. Em um mercado saudável, esse índice deveria girar perto dos 10%. O resultado: competição acirrada entre inquilinos, poucos imóveis e preços pelas alturas.
- Aluguel médio na Zona Sul chega a R$45,51 por metro quadrado
- Variação de preço em 2023 foi de 19,79%, e em Ipanema chegou a 34,9%
- Mercado atrai investidores internacionais, influenciando a alta e limitando ainda mais a oferta
O desafio de encontrar moradia não é exclusividade carioca, mas no Rio a situação pegou impulso graças a poucos terrenos disponíveis para novos prédios e o interesse crescente de estrangeiros. Eles aproveitam a cotação favorável do real para comprar imóveis de alto padrão, reforçando a disputa por cada metro quadrado e reduzindo as opções reais para quem precisa de moradia fixa.

Poder de barganha do inquilino desaparece e desigualdade aumenta
A valorização vertiginosa do aluguel, puxada pela diminuição da oferta, virou dor de cabeça para quem busca estabilidade. Com inflação anual batendo 5,49% em abril de 2025 e salários praticamente congelados, ficou impossível negociar descontos ou encontrar alternativas mais em conta, principalmente nos bairros mais cobiçados.
As imobiliárias destacam que os descontos de aluguel, comuns durante crises econômicas, sumiram quase completamente. O pouco que existe é rapidamente disputado. Para os mais dispostos a pagar caro, há muitas opções de apartamentos de luxo, cheios de diferenciais. Mas para o público mais amplo, as opções se resumem a unidades apertadas ou que viraram locação por temporada. O metro quadrado residencial nas principais cidades ultrapassou R$11.497, consolidando o Rio e São Paulo no topo do ranking nacional.
Plataformas como Airbnb passaram a ser ponto central desse novo mercado: apartamentos residenciais viram locais de hospedagem, mudando a dinâmica dos bairros. De um lado, os turistas encontram facilidades. Do outro, moradores experimentam uma crise real de acessibilidade, que empurra quem ganha menos para áreas mais afastadas ou ambientes cada vez menores.
Essa guinada acendeu o alerta de especialistas, que enxergam no fenômeno não apenas uma questão de oferta e demanda, mas uma mudança estrutural. Sem ações de governo para equilibrar o jogo, a tendência é de aumento da desigualdade urbana e exclusão dos moradores tradicionais desses bairros. O mapa da moradia carioca, ao que tudo indica, nunca esteve tão fora do alcance de quem mais precisa dele.