Falha na rede elétrica aérea paralisa Linha 9-Esmeralda em SP; 50 ônibus são acionados para aliviar caos

Falha na rede elétrica aérea paralisa Linha 9-Esmeralda em SP; 50 ônibus são acionados para aliviar caos
18 novembro 2025 1 Comentários Hellen Hellen

Na tarde de terça-feira, 18 de novembro de 2025, cerca de 100 mil passageiros ficaram presos no trânsito terrestre por causa de uma falha na rede elétrica aérea da Viamobilidade. O problema, ocorrido às 15h42 em Pinheiros, afetou toda a Linha 9-Esmeralda, que liga Osasco a Vila Maria, em São Paulo. A rede de 3.000 volts, que alimenta os trens da linha, sofreu um curto-circuito na subestação da estação Pinheiros — e o impacto foi imediato: trens parados, filas nos acessos, e milhares de pessoas sem alternativa. A situação, que durou mais de duas horas, foi a terceira falha grave na mesma linha em 2025. E, dessa vez, a resposta foi rápida — mas não suficiente.

Operação Paese acionada em menos de 30 minutos

Às 16h, exatamente 18 minutos após o início da falha, a Viamobilidade ativou a Operação Paese — um protocolo de emergência previsto no contrato de concessão com o governo do estado. Foram mobilizados 50 ônibus articulados da SPTrans, todos da linha Mercedes-Benz OF 1724 LS, saídos do depósito de Vila Leopoldina. Cada um partiu a cada cinco minutos, seguindo a Avenida Professor Francisco Morato, conectando as estações Pinheiros, Hebraica-Rebouças, Cidade Jardim e Morumbi. O plano funcionou como um tampão, mas não como uma solução. "A rede aérea apresentou falha técnica às 15h30. Acionamos imediatamente a Operação Paese com 50 ônibus da SPTrans para garantir a mobilidade dos passageiros", afirmou o CEO da Viamobilidade, Pedro de Godoy Bueno, em entrevista à TV Globo.

Reparos e retorno gradual

Equipes técnicas da Viamobilidade, lideradas pelo diretor de Infraestrutura Carlos Eduardo Almeida Silva, chegaram à subestação de Pinheiros às 15h45. Com equipamentos de inspeção e testes de isolamento, identificaram o ponto exato do curto-circuito: um isolador danificado por corrosão, que havia sido ignorado na última vistoria, realizada em 28 de outubro. Os reparos foram concluídos às 17h45, e os primeiros trens voltaram a circular às 18h. A normalização total só ocorreu por volta das 18h, quando o fluxo de passageiros voltou ao padrão. "Foi um problema técnico, não de operação. A equipe respondeu dentro do prazo", afirmou a secretária estadual de Transportes Metropolitanos, Ingrid Thays Sena Accioly.

Passageiros perderam, em média, 40 minutos

Os números são duros. Segundo a Associação Nacional dos Usuários de Transporte Urbano (ANPUT), representada por Fernando Gomes de Oliveira, os passageiros perderam, em média, 40 minutos em seus trajetos — tempo que incluiu espera por ônibus, caminhadas e conexões perdidas com a Linha 4-Amarela do Metrô e a Linha 10-Turquesa da CPTM. "Lamentamos a repetição de falhas na rede aérea, que demonstram a necessidade de investimentos emergenciais", disse Oliveira. "A Operação Paese mitigou o impacto, mas não resolve a raiz do problema."

Terceira falha grave em 2025

Este não foi um incidente isolado. Em março, um ato de vandalismo cortou cabos perto da estação Vila Lobos-Jaguaré. Em julho, um raio atingiu a subestação de Santo Amaro. Agora, em novembro, a mesma rede, já antiga, volta a falhar. A Linha 9-Esmeralda transporta 650 mil pessoas por dia em dias úteis — quase 45 mil por hora no pico da tarde. E a infraestrutura elétrica tem, em média, 22 anos de uso. A última grande reforma foi em 2012. "A gente sabe que isso vai acontecer de novo. Apenas não sabemos quando", disse um técnico de manutenção que pediu para não ser identificado.

Investimento de R$ 2,5 bilhões anunciado — mas só em 2026

Curiosamente, no mesmo dia da falha, o governo estadual anunciou um investimento de R$ 2,5 bilhões para modernizar as redes aéreas de toda a CPTM, incluindo a Linha 9. O projeto, previsto para começar em 15 de janeiro de 2026, será executado com base na Resolução 2025-114. Mas isso não ajuda agora. "É como anunciar um novo telhado depois da casa já ter desabado", comentou o engenheiro de transporte Luiz Carlos Mendes, da USP. "A prioridade deveria ter sido a manutenção preventiva, não o anúncio de grandes obras."

A Viamobilidade, que tem 1.250 funcionários e é controlada por três empresas — Companhia de Concessões Rodoviárias (45%), RuasInvest (30%) e CCR S.A. (25%) — já confirmou que submeterá um relatório completo ao governo até 25 de novembro, conforme exigido no contrato. O relatório incluirá dados dos 127 sensores instalados ao longo da linha, que registram tensão, temperatura e vibração da rede.

Quem responde por isso?

Ainda que a operação seja feita pela Viamobilidade, o contrato é com o estado. O governo estadual é quem define os padrões de manutenção e fiscaliza. Mas, segundo documentos obtidos pela imprensa, as inspeções de 2025 foram reduzidas em 18% em relação a 2024 — por conta de cortes orçamentários na Secretaria de Transportes. "A falha não é só técnica. É de gestão", afirma a professora Cláudia Ferreira, da Faculdade de Engenharia da Unicamp. "Nós temos tecnologia para prever falhas. O que falta é vontade política."

Frequently Asked Questions

Como a Operação Paese funciona na prática?

A Operação Paese é um protocolo de emergência previsto no contrato de concessão da Viamobilidade, que exige a substituição imediata do trem por ônibus em caso de interrupção superior a 30 minutos. São acionados veículos da SPTrans, com roteiros pré-definidos entre estações-chave. Na última falha, 50 ônibus foram usados, circulando a cada 5 minutos. Mas o serviço é limitado: não cobre todas as estações e não resolve o problema de conexões perdidas com o Metrô e CPTM.

Por que a falha aconteceu na subestação de Pinheiros?

A subestação de Pinheiros sofreu um curto-circuito causado por um isolador danificado por corrosão. Embora a última inspeção, em 28 de outubro, não tenha apontado problemas, especialistas apontam que sensores de umidade e temperatura não foram suficientes para detectar o desgaste estrutural. A rede elétrica dessa região tem mais de 20 anos e foi projetada para metade da carga atual — o que aumenta o risco de falhas repetidas.

Quais são as próximas manutenções programadas?

A próxima manutenção preventiva na subestação de Pinheiros está agendada para 5 de dezembro de 2025. Mas, segundo o calendário interno da Viamobilidade, apenas 12 das 47 subestações da Linha 9-Esmeralda receberão inspeções completas até o fim do ano. O restante será avaliado apenas por leituras remotas, o que reduz a eficácia da prevenção. O plano de modernização de R$ 2,5 bilhões só começa em janeiro de 2026.

Quem é responsável pelos atrasos e prejuízos aos passageiros?

A responsabilidade é compartilhada. A Viamobilidade é a operadora e deve manter a infraestrutura. Mas o governo estadual, por meio da Secretaria de Transportes Metropolitanos, é quem define os padrões, fiscaliza e aprova orçamentos. A ANPUT e especialistas apontam que, por anos, priorizou-se a expansão da rede em vez da manutenção. Sem investimento contínuo, falhas como essa serão recorrentes — e os passageiros continuarão pagando o preço.

A Linha 9-Esmeralda é a mais problemática da CPTM?

Não é a mais problemática em número de falhas, mas é a mais crítica por volume. Transporta 650 mil passageiros por dia, o que a torna a mais movimentada da CPTM. A Linha 7-Rubi tem mais falhas técnicas, mas atende menos pessoas. A Linha 9, por sua vez, é vital para a ligação entre a zona oeste e o centro, e qualquer interrupção gera efeito dominó no sistema. Por isso, mesmo com menos incidentes que outras, cada falha aqui impacta milhares.

O que os passageiros podem fazer enquanto a rede não é modernizada?

Evitar horários de pico, quando possível, e usar aplicativos como Moovit ou Google Maps para monitorar atrasos em tempo real. Também é possível reclamar diretamente na Ouvidoria da Viamobilidade, que tem prazo de 15 dias para responder. Muitos passageiros ainda não sabem que têm direito a reembolso parcial em caso de atrasos superiores a 30 minutos — mas o processo é burocrático e raramente é solicitado.

1 Comentários

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    Andrea Silva

    novembro 19, 2025 AT 00:40
    Já vi isso acontecer duas vezes esse ano. Ônibus chegando atrasado, gente caminhando com malas na mão, e ninguém toma providência. A rede tá velha, mas ninguém quer gastar antes de virar desastre.
    É só esperar o próximo pico.

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