Frio extremo na Serra Catarinense marca inverno de 2025 com neve rara

A Serra Catarinense, região conhecida por suas paisagens montanhosas e clima mais ameno, viveu em 2025 um inverno que quebrou todas as expectativas. Foram quatro grandes ondas de frio, sendo a última a mais intensa, com registros de temperatura que chegaram a -10°C em áreas elevadas. Esse patamar jamais havia sido observado na região, ao ponto de transformar cidades como São Joaquim em verdadeiros cenários de filme de inverno.
Ondas de frio recorde e a neve que encantou a todos
Os dados oficiais do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) mostraram que a quarta frente fria, que se iniciou em meados de julho, trouxe consigo massas de ar polar ainda mais geladas que as precedentes. Em São Joaquim, o termômetro marcou -2°C, mas o fator de sensação térmica chegou a -12°C devido aos ventos fortes. Essa combinação provocou o fenômeno raro da neve, algo que acontece esporadicamente na serra, mas que naquele dia se tornou abundante e cobriu ruas, praças e vinhedos.
A neve atraiu milhares de visitantes de outras partes do Brasil, que chegaram em busca de fotos e da experiência de um inverno “de verdade”. Hospedarias, pousadas e restaurantes relataram ocupação quase total, impulsionando a economia local em um período normalmente de baixa demanda. Enquanto isso, os moradores aproveitaram para registrar momentos inéditos nas redes sociais, gerando um grande volume de imagens que circularam nacionalmente.

Impactos na agricultura, energia e estratégias de mitigação
O frio extremo trouxe desafios severos para o setor agropecuário da região. Vinhedos, que constituem a base da produção de vinhos finos da serra, sofreram com geadas que danificaram gemas e reduziram a qualidade das uvas. Culturas de frutas como pêssego e maçã também enfrentaram perdas significativas, já que o frio prolongado congelou tecidos vegetais que ainda não estavam em fase de dormência.
Além da agricultura, a demanda por energia elétrica aumentou consideravelmente. As residências tiveram que acionar aquecedores e sistemas de climatização, pressionando a rede elétrica local. O governo estadual acionou alertas de consumo responsável e incentivou o uso de fontes renováveis, como energia solar, que, apesar da menor incidência solar naquele período, ainda contribuiu para reduzir a sobrecarga.
Especialistas do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) ressaltaram a importância de previsões de alta precisão. Modelos numéricos avançados permitiram que agricultores recebessem alertas com antecedência de até 72 horas, possibilitando a adoção de práticas como a aplicação de anticongelantes e o realocamento temporário de cultivos vulneráveis. Nas áreas mais afetadas, cooperativas organizaram campanhas de apoio e distribuição de recursos para minimizar perdas.
Outros estados também sentiram a força da mesma frente fria. Em Rio Grande do Sul, cidades como Dom Pedrito (-1,5°C), Jaguarão (-1,3°C) e Bagé (0,4°C) registraram temperaturas próximas ao ponto de congelamento. O fenômeno se estendeu para o norte do Paraná e chegou a afetar áreas de Mato Grosso do Sul e até partes do sudeste de São Paulo, onde chuvas intensas acompanharam a queda de temperatura, aumentando o risco de enchentes localizadas.
O inverno de 2025 ficará marcado não só pelos recordes de temperatura, mas também pelos aprendizados gerados. Autoridades públicas, instituições de pesquisa e o setor produtivo perceberam a necessidade de investir em infraestrutura de monitoramento climático, melhorar a comunicação de avisos e adaptar práticas agrícolas ao cenário de eventos extremos cada vez mais frequentes devido às mudanças climáticas.
Em meio a tudo isso, a Serra Catarinense mostrou sua resiliência. Apesar dos prejuízos, a região transformou o climatério adverso em oportunidade de turismo, ciência e conscientização, lembrando que o Brasil, apesar de sua imagem tropical, pode viver momentos de frio intenso e ainda assim tirar proveito dessas curvas inesperadas da natureza.