Joesley Batista mira ativos do Banco Master em negociação com Daniel Vorcaro

Negociação em alta voltagem
Em plena celebração do Dia do Trabalhador, Joesley Batista encontrou‑se com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para tratar de assuntos que vão muito além de questões institucionais. O encontro, realizado das 15h às 16h no próprio BCB, contou ainda com a presença de Ailton Aquino, chefe de supervisão, e Gilney Vivan, responsável pela regulação. A pauta, segundo fontes próximas, girava em torno da compra de ativos estratégicos do Banco Master, controlado por Daniel Vorcaro.
A estratégia da J&F Investimentos, holding dos irmãos Batista, seria canalizar o negócio por meio de suas duas plataformas financeiras consolidadas: a fintech PicPay e o Banco Original. Ambas já operam dentro de um ecossistema regulatório que permite a integração de novos produtos e a ampliação da base de clientes.
Do lado do Banco Master, o principal atrativo está dividido em duas frentes. A primeira é a Credcesta, cartão de crédito consignado exclusivo para servidores públicos, criado na Bahia e reforçado durante o governo de Rui Costa. Sob comando da Master, a Credcesta expandiu‑se nacionalmente, oferecendo crédito com desconto direto na folha de pagamento. A segunda frente consiste no portfólio de precatórios – títulos de dívida emitidos por municípios, estados e a União – que soma cerca de R$ 8 bi, segundo balanço de 2024.
- Credcesta: serviço de crédito consignado para o setor público, com presença em todos os estados.
- Precatórios: dívida judicial que pode valorizar à medida que o Tesouro paga as ordens a partir de julho de 2025.
- Ativos pessoais de Vorcaro: incluídos para suportar passivos que escapam ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Os precatórios são particularmente sensíveis ao calendário de pagamentos do governo. Se a agenda de quitação avançar conforme o planejado, o valor desses títulos pode subir, tornando‑os um ativo lucrativo para quem os detém. Essa perspectiva tem atraído olhares de outras instituições, como o Banco de Brasília (BRB), que também demonstra interesse na Credcesta.

Desafios e perspectivas
A joia da coroa da negociação – a Credcesta – está em disputa. O BRB já sinalizou vontade de adquirir o cartão, o que pode gerar uma guerra de lances entre os maiores players do segmento bancário. Para a J&F, garantir esse ativo significaria fortalecer o PicPay no segmento de crédito consignado, um mercado alimentado pela vasta força de trabalho do setor público.
Além da concorrência, o acordo também tem que encarar os passivos do Banco Master que não estão cobertos pelo FGC, como valores vinculados a fundos de pensão. A inclusão dos bens pessoais de Vorcaro no pacote parece ser a maneira proposta para mitigar esse risco, oferecendo à J&F uma solução mais completa do que a simples compra de ativos.
O timing da operação coincide com a tentativa da família Batista de reconstruir a reputação após a absolvição pela CVM de acusações de insider trading – processo que manteve Joesley e Wesley Batista detidos preventivamente por seis meses entre 2017 e 2018. A decisão da CVM, anunciada em 29 de janeiro de 2025, revertia todas as acusações, liberando o caminho para novos investimentos.
Especialistas apontam que essa movimentação do conglomerado sinaliza uma tendência de consolidação no setor bancário brasileiro. A integração de fintechs como a PicPay com carteiras de crédito tradicional pode acelerar a digitalização dos serviços financeiros, ao mesmo tempo em que traz desafios regulatórios, sobretudo no que tange à supervisão de riscos de crédito e à proteção dos depositantes.
Se a J&F conseguir fechar o acordo, o resultado será uma presença ainda maior nos mercados de crédito consignado e de títulos de dívida pública, reforçando sua diversificação além da carne, setor tradicional da JBS. Para o Banco Master, a transação poderia significar um alívio financeiro imediato, permitindo focar em suas operações principais sem o peso de passivos fora do escopo do FGC.
Enquanto as negociações avançam, o mercado acompanha de perto as próximas publicações do Banco Central e os movimentos de investidores institucionais. A decisão final ainda depende de aprovação regulatória, definição dos termos de transferência de ativos e, claro, da capacidade de ambas as partes de alinhar interesses financeiros e estratégicos.